Quando minha avó me contava como era a Páscoa na colônia, eu imaginava uma cena assim:
Foto de Rave_n
Mulheres caladas e sorridentes de um lado para o outro numa cozinha bem rústica da roça fazendo massa de pão doce. Ela dizia que, durante a Quaresma, eles ficavam mais quietos e para comemorar a Páscoa faziam roscas com ovos para presentear os vizinhos.



Ciambella e Gente di Sardegna
Eu não entendia muito bem essa parte. Pra que tanto trabalho para presentear os vizinhos? Justo os vizinhos! E enquanto ela andava de um lado pro outro, com o cabelo preto salpicado de farinha e desviava de mim, que ficava grudada entre suas pernas, pedindo para mexer na massa, para cutucar suas varizes, para colocar seu avental e implorando para fritar as fogazzas (coisa que nunca fiz até ter uns 15 anos…), ela explicava que era isso a Páscoa. Presentear os amigos, agradar quem vivia por perto e dava duro na roça de sol a sol.
Ela era a filha que não ia pra roça. A sinusite não permitia. O sol forte na plantação de cana dava enxaquecas horrorosas. Por isso a ela restava o trabalho na cozinha. Entre o fogão à lenha e a pia. Entre os ex-escravos que ajudavam na lida da casa. Por isso também ela incrementava a culinária italiana com a comida brasileira. E depois foi com a mineira, com a lituana e com a espanhola. O menu lá de casa tinha Puchero com couve e torta de palmito (mas essa é outra história…).
Felizmente nasci numa Sexta-Feira Santa. Adoro a Páscoa. Adoro presentear. E sinto uma falta danada dessa senhora que sabia tudo sobre a arte de agradar sem esperar nada em troca.
Feliz Páscoa, vó!
Tia Lidia, mãe (bebê) e vó Pracilia Gatti
PS: Eu não tenho receitas dessas guloseimas de Páscoa! Vc tem? Manda pra mim!
As pessoas puras de alma tinham que ter este sentimento.>>Parabéns pelo post!
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Que historinha bonita. Infelizmente, na casa dos meus pais nunca houve uma tradição de Páscoa, só umas regras estranhas na Sexta-feira Santa, tipo ajoelhar pra pedir a benção, mas, se eu tivesse filhos, implementaria várias tradições. Acho bonito e importante as crianças viverem em um meio mais doce e gentil.
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Lindo, Ana! Me deu uma saudade da minha nona…Imigrante simples, que cresceu trabalhando no campo e mais tarde foi empregada doméstica numa casa dos jardins. Foi a pessoa mais bonita que conheci nesta vida. Pura e despudorada. Era verdadeira e tão generosa! Me lembro que na Páscoa, todos nos enchiam de ovos de todos os tipos, cores e tamanhos. Ela não. Minha vó Nina sabia que eu gostava mais de côco do que de chocolate. E toda Santa Páscoa, me dava uma cocada feita por ela mesma de presente. E eu falava: Ai, vó! O seu presente é sempre o melhor do mundo!
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Que linda história, Ana. Fiquei emocionada!
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Ai que linda a história, vieram flashes de quando juntava a família toda na casa da tia pracilia (muito depois disso claro né )>que saudadees
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